segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Novamente saímos bem cedo da cidade onde estávamos, Puquio, mas dessa o sol já brilhava. Apesar do desafio de subir novamente a cima dos 4000 metros de altitude, mantemos certa tranqüilidade, talvez mais confiança e menos expectativa. No caminho interagimos melhor com a cultura Quechua e encontramos um cicloviajante colombiano que estava pedalando há 4 meses. Conversamos bastante e nos identificamos muito, ele também pertencia a um projeto com metas alinhados ao Projeto CicloPoiesis, a sendo que a principal é promover a bicicleta como meio de transporte, divulgar e demonstrar sua eficiência.
 
Enquanto pedalávamos, a formação de uma tempestade nos ameaçava já a alguns km, quando decidimos, perto do 4300 metros de altitude, pedir outra carona para se proteger. Logo um caminhão vazio parou. Atravessamos a chuva e os pampas em segurança na caçamba do caminhão, 40 km de uma experiência muito interessante e engraçado. Foi possível contemplar uma família de Condores, coisa muitíssimo rara, voando sobre nossas cabeças. Incrível!
 
Enfim, saltamos do caminhão no inicio da maior descida de nossas vidas. 55 km de “pura bajada” até Nasca. A paisagem mudou completamente, deixamos o visual das alturas para trás e entramos no deserto, aproveitamos a diferença de paisagem e a facilidade da descida para fotografar e filmar bastante.
 
Quase chegando a Nasca, encontramos mais dois cicloviajantes belgas. Conversamos bastante e nos despedimos um pouco preocupados, porque eles estavam muito despreparados, estavam a 3 horas subindo, pouco menos de 1000 metros, ainda os esperava bons 3000 metros acima em pelo menos 40 km, além de ter que cruzar o Parque Natural Galeras nos “pampas das alturas”. Talvez 2 dias para isso fosse pouco. Bom, deixamos o que pudemos de água com eles e desejamos boa sorte e sucesso.
 
Chegamos a Nasca em meio a confusão do trânsito peruano, foi hora de triplicar a atenção. Passamos batido, por conta do cansaço, por algumas ruínas e pontos importantes e finalmente, por muito menos que vínhamos gastando até aqui, nos hospedamos num bom hotel. Hora de se organizar de novo, trabalhar o material coletado, lavar as roupas e planejar os próximos km´s.

Um dia de descanso. Como é importante. Conseguimos assim nos concentrar novamente no objetivo desta viagem, e também observar com mais detalhes a cultura que nos cerca. Voltamos a produzir grande quantidade de conteúdo. 
 
Fomos muito bem acolhidos num restaurante local “La Estancia”, “recomendadíssimo”, o Prof. Salomón e seus Filhos, boa comida bom papo e bons conselhos. Comemos uma Trucha!!!!!
 
Recarregamos as baterias!!
Nos primeiros 2 km, às 4h 20 minutos da manhã, fomos surpreendidos por um riacho que passa pelo meio da estrada. Esses são comuns na região por onde estamos pedalando, sempre passamos por eles sem problemas, porém, esse era mais fundo do que imaginávamos. O escuro nos impediu de fazer uma avaliação melhor, perdemos o equilíbrio durante a travessia e fomos obrigados a colocar os pés no chão, ou seja, na água. Se não estivéssemos a caminho dos 4 mil metros de altitude isso até que seria divertido, mas o que ocorreu é que nossos organismos gastaram mais energia para manter a temperatura de nossos corpos, pois nossos pés estavam muito gelados por causa do frio e da altitude.
 
Na escuridão ainda e concentrados tivemos que ficar espertos com os cães, que tem sido pouco receptivo tentando nos morder, graças a habilidade do Rodrigo, temos nos mantido protegido.
 
Com o dia clareando, observamos os pássaros acordando, emanando cantos dos paredões rochosos que nos cercavam.
 
Encaramos a maior montanha de nossas vidas com os pés molhados, com o medo controlado e concentração máxima. O sol nos acompanhou durante todo trecho, apesar das nuvens e ameaças de chuvas que sempre estavam sobre nossas rodas. Subimos de 2800 a 4021 metros de altitude até um povoado Quechua que vive em meio às nuvens, criando Lhamas e Alpacas.
 
Percorremos 60 km em 5 horas, todavia estávamos na estrada a mais de 8 h pedalando por aquelas montanhas gigantes, e os efeitos da altitude mesclados com o esforço se intensificaram. Tontura, náusea e muita dor de cabeça afetavam mais a Rodrigo do que Thobias, que continuava a sentir o joelho, foi quando decidimos, por uma questão de segurança, em um “poeblo” das altitudes, pedir uma carona até um lugar protegido.
 
Na camionete de Abel e Richard percebemos o risco que estávamos correndo e que a decisão que tomamos foi a mais prudente. Subimos a cima dos 4 500 metros de altitude por uma estrada que parecia uma montanha russa. No meio do trajeto, observamos os campos de altitudes com alguma neve, logo depois uma tempestade de gelo assustadora nos surpreendeu, de repente a estrada e o entorno ficaram brancos, congelados, se estivéssemos pedalando não sabemos o que aconteceria.
 
Tudo isso, mais a alta velocidade da camionete em conjunto com as curvas agravaram o estado de Rodrigo, que vomitou diversas vezes até chegar a Puquio. Fomos para uma pousada descansar, Rodrigo tomou medicação para os efeitos da altitude e logo melhor. O Thobias começou a tomar medicamento para a dor no joelho.
 
Não podemos esquecer, e por isso finalizamos dessa forma, que cada segundo desse dia valeu muito à pena. Entre todas essas dificuldades contemplamos a imensidão das cordilheiras dos Andes peruana, os animais exóticos, as lagunas de altitude e, sobretudo nossos estados internos e limites. Devido às circunstancias, documentamos pouco com fotos e vídeo esse dia, mas ainda podemos contar com essas palavras aqui escritas e com nossas memórias, cientes de que esse dia foi muito especial.

Chegou o instante de encarar o trecho mais difícil da viagem. Apesar da tranqüilidade e descanso de hoje, estamos muito ansiosos com relação ao pedal de amanhã. 
 
Hoje não podemos falar muito sobre nosso presente, pois estamos pensando apenas nos próximos km que virão. O processo de produção das fotos e dos vídeos também ficaram um pouco em segundo plano, pois estamos nos concentrando para evitar qualquer problema ou dificuldade.
 
Vamos acordar as 3 da matina e começar o pedal as 4. Esperamos que tudo corra bem!
 
Pedalamos pouco, por 21 km, subindo. Ainda tivemos que consertar a roda do Thobias que quebrou dois raios. 
 
A cidade de Chalhuanca e de beira de estrada, uma cidade de passagem, uma cidade onde se dorme antes de atravessar as cordilheiras dos Andes, em direção a Lima estão mais ou menos 200 km de altitude, passando dos 4600. “Los Condutores” não se arriscam a atravessá-la a noite. Existe informação de que se neva e “las “carreteira” se congelam. Um trecho para se tomar todo o cuidado e precaução.
 
Como outros lugares aqui também fomos tratados como gringos e isso tem nos deixado um pouco receosos, assim evitamos aparecer com equipamentos eletrônicos em muitos lugares, o que prejudica um pouco a coleta de material. Temos realmente que tomar cuidado.

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