sexta-feira, 10 de julho de 2009

Lobo Antunes / Escritor Português

Em Homenagem ao Confrade: abraços Marcão, tá lá Bê...

05/07/2009 - 11h50

Para escrever é preciso ver Garrincha, afirma Lobo Antunes


Rio de Janeiro, 5 jul (Lusa) - Se alguém quer ser escritor deveria ver por dez minutos o jogador Mané Garrinha em ação, pois "não sai do corpo, sai da alma", disse o escritor português António Lobo Antunes, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

"Para escrever tem que ter dentro de si um Garrincha. É muito difícil, tem que fazer um esforço", afirmou o vencedor do prêmio Camões em 2007, perante um público de centenas de pessoas que se reuniram para ouvir Lobo Antunes, o destaque da feira literária que termina neste domingo.

De acordo com o autor português, escrever é um trabalho impossível, por se "trabalhar com coisas que são intraduzíveis em palavras, coisas anteriores às palavras que são as emoções, os impulsos e o grande problema é como transformá-los em palavras, transformar a linguagem das emissões numa linguagem que não se exprime através das palavras".

Lobo Antunes, que publicou 21 romances num período de 30 anos, afirmou que um livro é um "organismo vivo" que tem as suas leis, a sua fisionomia, o seu caráter, temperamento, "tal como um homem e uma mulher".

Um livro tem que ser uma "enorme metáfora, porque todo grande livro é, entre outras coisas, humano, uma reflexão profunda e constante sobre a arte de escrever", ressaltou.

Trabalho

O autor, que não vinha ao Brasil desde 1983, disse que o seu primeiro contato com a literatura foi a partir de autores brasileiros como Machado de Assis, José de Alencar, Aluísio Azevedo, Manuel Bandeira e Monteiro Lobato.

O escritor português reconheceu que escrever é "muito difícil", mas admitiu que, quando o livro é bom, "faz-se sozinho, é tentar tornar a sua mão feliz, se ela está feliz o livro sai".

Lobo Antunes disse ao público que sua única regra antes de começar a escrever é impor a si mesmo "desafios impossíveis". "Vou escrever um livro que não sou capaz de escrever, tem que se por desafios cada vez mais intensos".

"Quando comecei a escrever com cinco anos era maravilhoso, as palavras faziam sentido uma atrás da outra. Aos 15 anos, você descobre que há uma diferença entre escrever bem e mal e, depois dos 20, você percebe que há uma diferença ainda maior entre escrever bem e uma obra-prima", ressaltou.

Para Lobo Antunes, escrever é, sobretudo, um regime de reescrever que requer uma atitude de "humildade". "Se calhar o sucesso não é mais do que um fracasso adiado", disse.

Obras

Com 66 anos, Lobo Antunes falou da possibilidade de parar de escrever. "Você pensa que não é capaz e, ao mesmo tempo, é a razão de vida".

Ler dá muito mais prazer, salientou, destacando que a leitura é um ato "extremamente criativo" e que deve ser feita de sonhos, pesadelos, "é a vida".

O que continua a mover o autor é a inquietação e a insatisfação de escrever um outro livro para corrigir o anterior. "Ficamos sempre aquém daquilo que queríamos dizer, é grande a frustração para quem trabalha com palavras", afirmou.

Lobo Antunes foi aplaudido de pé por centenas de pessoas que assistiram à sua intervenção "Escrever é preciso" na FLIP e ficou visivelmente comovido com a interação e o reconhecimento do público.

A sua última obra "Arquipélago da Insônia" ainda não foi publicada no Brasil. E ainda este ano, deverá ser lançado em Portugal "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?", sem previsão de publicação no Brasil.

Neste mês, o autor lança no Brasil dois livros, "Explicação dos Pássaros" (1981) que considerou um romance, e "Meu Nome é Legião" (2007), sobre o qual disse não saber bem que estilo é

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