terça-feira, 5 de março de 2013

Momentos de Reflexão...


- E o que tem isso a ver com mudar o pensamento humano?

O que a arte de observar tem a ver com vender sonhos?

— Quem não desenvolve a arte de observar tem uma inteligência superficial e uma humanidade rasteira.

 Pode vir a ser um depósito de informações, mas nunca construirá grandes idéias ??????....


Lembrei-me de que no dia anterior eu não enxergara o complexo ser humano que estava por trás dos rituais de Salomão. Meu senso de observação estava empobrecido. Via o que todo ”normal” acusava. Edson e Dimas também não sabiam o que fazer com o papel. Bartolomeu cantarolava para conseguir inspiração, mas nada. Olhava para cima e para os lados, e continuava inerte. Os minutos se passavam, e não observávamos nada de interessante. Salomão era a única exceção. Diminuiu sua ansiedade obsessiva e começou a escrever sem parar.
 Estava entusiasmado. Dizia freqüentemente:
— Hum! Hum! Que especial! Fantástico!

Enquanto ele escrevia, eu estava bloqueado, O vendedor de sonhos me deu um empurrão.
— Só desenvolverão a arte de observar se aprenderem a mais difícil arte do intelecto humano. — E não deu a resposta.

”Qual?”, pensei eu. Momentos depois, ele comentou:

— A arte de aquietar a mente. Mentes que outrora foram brilhantes viveram uma vida medíocre porque não aquietaram seus pensamentos.

 Grandes escritores, notáveis cientistas, magníficos artistas plásticos dilaceraram sua inspiração porque tiveram uma mente agitada. Os pensamentos, as imagens mentais e as fantasias que podem alçar vôo da criatividade também, podem, quando excessivos, lhe cortar as asas, furtar a intuição e a engenhosidade.

”Esse é o meu problema”, imaginei. Minha mente era um trevo de agitação. Pensar, inclusive bobagens, era a minha especialidade. Sempre fui inimigo do silêncio. Mas sob sua palavra tentei me silenciar. Não foi fácil, pois era inundado por imagens que me cruzavam a mente numa velocidade mais rápida do que os carros transitavam na avenida em que estávamos. A poluição intelectual era o meu algoz.

Meus amigos também estavam perdidos. Mas, pouco a pouco, entramos no infinito mundo do silêncio. A partir desse momento, nossa perceptividade se aguçou. Comecei a distinguir os sons agudos de um pássaro. Ele repicava uma belíssima melodia com inacreditável fôlego. Anotei-a. Em seguida, outro pássaro cantou uma chorosa melodia. Momentos depois, um pombo macho fazia um ritual de cortejo para uma fêmea.

Observei mais de dez cantos extraordinários de pássaros. Eles não tinham muitos motivos para se animar nesse frio canteiro de concreto, mas, diferentemente de mim, festejavam. Observei e anotei a valentia dos troncos carcomidos das árvores, que, apesar da impermeabilidade do solo e da escassez hídrica, sobreviviam no inóspito ambiente, uma valentia que nunca tive. Mais de dez milhões de pessoas passaram por essas árvores desde que foram plantadas e talvez no máximo dez as observaram detalhadamente. Começava a me sentir um privilegiado no deserto social.

Bartolomeu, que não conseguia nem observar um elefante à sua frente, também começou a ter êxito nessa empreitada. Contemplou cinco borboletas multicoloridas que dançavam espontaneamente usando apenas as asas. Anotou que, diferentemente delas, só bailava bêbado. Edson anotou diversos tipos de sons produzidos pelos estalidos das folhas ao sabor do vento. Elas aplaudiam despretensiosamente os caminhantes, diferentemente dele, que procurava os aplausos. Dimas analisou insetos que trabalhavam sem parar, preparando-se para o inverno, coisa que ele nunca fizera. Ele furtava e, como todo ladrão, era um péssimo administrador; acreditava que a vida era uma eterna primavera.

Após esse exercício prazeroso, dissemos uma das nossas frases favoritas: ”Eu adoro essa vida!” Nunca fazer tão pouco fez tanta diferença! Não imaginava que a natureza estivesse presente de maneira marcante no centro da cidade. Como pode um especialista em sociedade nunca ter feito esse exercício? Pela primeira vez, amei o silêncio, e na atmosfera do silêncio descobri que não tive infância.



"-Sempre é bom parar para ouvir e refletir, afinal, precisamos voltar a emprestar o valor merecido, às coisas mais simples da Vida, porquanto, ainda podemos, bjkas Marcão"

Trecho do livro: O Vendedor de Sonhos de Augusto Cury

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns Marcão, excelente postagem, precisamos aprender, sempre...