terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Riobamba / Banos

Hoje foi o dia mais louco, “adrenante” e fantástico de cicloviagem que já vivi nos meus modestos km pedalados pela América do Sul. A rota foi de Riobamba para Baños pela estrada antiga, que passa pelo povoado de Penipe. Estava pedalando, vibrando com a paisagem, o silêncio e a tranquilidade de uma estrada quase sem nenhum movimento. De repente não havia mais nenhum veículo motorizado, estava em extase. 
Após alguns pequenos obstáculos, característicos de uma estrada em desuso, realmente surgiu o primeiro desafio, uma bifurção sem nenhuma informação. Escolhi o caminho errado e me deparei com o final da estrada que se acabava em um penhasco e recomeçava do outro lado, pensei: “sem problemas, é só voltar e ir pelo outro caminho.” Acontece que não foi tão simples assim, o outro caminho também estava interrompido pela mesma erosão de um rio, soube em seguida que isso que chameni de rio era água e barro do vulcão Tungurahua, em plena atividade, pronto para entrar em erupção a qualquer momento.
Quem me explicou isso, e muito mais sobre o vulcão e toda essa região, foi Rafael, um jovem nativo que vive numa fazenda com sua família nessa região. Atravessamos essa e mais 4 erosões muito mais difíceis, inclusive duvidei da possibilidade de atravessar-las em pelo menos 3 delas e principalmente na última. Agora tenho um amigo que mora no pé do vulão Tungurahua, cuja última erupção foi em 2006 e que pode explodir de novo a qualquer momento. Não apenas vi as consequencias dessa erupção com meus prórpios olhos, como tive o privilégio de compartilhar a narrativa emocionante desse jovem, que experimentou tudo de muito perto e não conseguia segurar as lágrimas que escorriam de seus olhos, de suas lembranças.
Depois de passar a última erosão, algo que não acredito que fizemos até agora, segui “solito” meu caminho e me perdi numa outra bifurcação. Me afastei muito de Baños, e o pior, montanha a baixo. Descobri que estava no caminho errado ao perguntar para uma família se estava muito longe de Baños, por surpresa eles apontaram para a direção de onde eu estava vindo, fiquei perplexo. Comecei a pedalar às 9 horas da manhã e já eram 4 horas da tarde, se voltasse pelo caminho de onde vinha, iria demorar pelo menos mais 1 hora de pedal montanha a cima e depois teria que atravessar mais erosões daquelas “solito”.
Foi então que eles me ofereceram uma carona para a cidade onde eles estavam indo, Pelileo. Prendemos a bike no lado de fora do pequeno caminhão, embraquei atrás junto com alguns sacos de milho, cebola e outros vegetais e duas famílias daquela região que estavam pegando uma carano também. Não sei ao certo o quanto rodamos, mas tenho certeza de que chegamos perto dos 4000 de altitude, o clima na caçamba do caminhão foi inesquecível, conversei muito com os adultos e brinquei um pouco com as crianças que não conseguiam para de mexer na minha bicicleta e ficavam me perguntando tudo sobre ela.
Quanta beleza e riquesa nessa simplicidade, jamais esquecerei essa experiência. Chegamos em Pelileo, montei a magrela e me joguei montanha a baixo até Baños, uma descida de 1000 metros. Para finalizar esse breve resumo de um dia muito especial, um mergulho nas piscinas termais de La Virgem na cidade de Baños, com águas aquecidas pelas profundezas do vulcão Tungurahua, que transfiriram para minha corporeidade um pouco dessa energia incalculável.  
O principal objetivo era aclimatar novamente à altitude, 2800. O dia foi tranquilo, conheci a cidade e planejei os próximos dias.

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