quarta-feira, 4 de abril de 2007

Futebol: Pura Inveja Texto Nota 10 ! ! !

Senhores Boleiros,

Texto recebido do Artilheiro dos Pinheiros, Versão 1 o Grande Dante, trata-se de um desabafo carinhoso, de uma grande mulher, que com coragem e sensibilidade descreve algo,-muito verdadeiro- sobre a nossa “religião” dos sábados. Portanto, ficam perdoados, data vênia, a Diretoria, todos os Boleiros, que têm o “perfil”, tão bem esquadrinhado. Vamos lá:

" - Era inveja:

No Brasil, três coisas são indiscutivelmente democráticas: A primeira a “Praia”, que debaixo de um sol junta a madame e a funkeira, trajadas no mesmo uniforme. A segunda o "Futebol", que une o ladrão e o padre numa imensa fraternidade; e A Terceira o "Trânsito", que bota o Zé do Chevette e o João do Jaguar lada a lado, paralisados pela mesma encrenca.

- Das três brasilidades, o futebol é a que mais me intriga. - Tenho um namorado que ama a bola! É uma pessoa cheia de virtudes, mas, se há uma constância em seu caráter, esta é a impontualidade. Não consegue chegar na hora, o mundo o atrapalha, a menos é claro no caso do futebol.

- Não falo aqui daquele jogo no estádio com hora oficial para começar, refiro-me à pelada, ao racha, aquele, bate-bola entre amigos, que no caso aqui de casa, acontece três vezes por semana, o campo é longe, uma viagem, o sol a pino -não importa-. Dia do compromisso logo cedo o moço fica ansioso, não pode atrasar e não há imprevisto que o segure. Nesses dias é um britânico!

- Sábado desses resolvi acompanhá-lo: Os companheiros de partida, esbeltos desportistas, não gostaram nadinha, mas, gentis, fizeram que sim. Aqui não é lugar de mulher, eu já devia saber. Para compensar o mal-estar, começa o jogo e eu bato muita palma, exagero o entusiasmo, assovio e tanto faço que o dono do campo a quem eu bajulava escancaradamente sentiu-se na obrigação de me dedicar um gol.

Segue o embate, com altos e baixos, a coisa aquece e pimba... Um golaço, aquele chutão do meio do campo para dentro da rede, ala a Roberto Carlos. As más-línguas desmerecendo o artilheiro dizem que o momento é histórico e não se repetirá -não acredito-, foi jogada de mestre, vi e guardarei na memória.

Continua a partida com bons momentos, outros nem tanto, uma confusão aqui, uma falta ali, um corpo caído no chão. De repente me bate uma estranheza e vou percebendo que acima da bola, das jogadas, do corre para lá e para cá, o que mais se via, na verdade, eram: discussões, ofensas, xingamentos e uma roubalheira de fazer corar um palmito.

A coisa chegou a um ponto em que tive a certeza de que terminando aquilo os adversários não voltariam a se falar. Acaba o jogo. Entre vitórias e desilusões, corre-se para o vestiário e devo dizer que nem na feira, fala-se tão alto e ao mesmo tempo, quanto num banheiro cheio de homens, eu não estava dentro, mas nem precisava... Fiquei quietinha do lado de fora esperando o meu namorado, que, pela delonga, tomava um banho de Cleópatra.

Assim, pude observar bem os outros rapazes que sorridentes e limpinhos iam saindo do vestiário qual, amigos de infância. Aqueles mesmos que há pouco se juravam de morte agora se pavoneavam uns para os outros aos tapinhas nas costas.

Havia ali cantores-compositores, um sapateiro, o editor de um jornal, um empresário da música, atores, "dois" jogadores aposentados, dois médicos e alguns moços das redondezas, empobrecidas, cuja competência em campo desequilibrava o jogo, tudo adversário de sangue na hora da bola e amigo do peito na saída para o chope.

Na pelada não há rancores, o que se passa em campo fica no campo. Nem pudores, ali são todos craques - o vírus da imodéstia ataca democraticamente. Uma beleza!- Fui-me embora com um vazio a futucar o espírito. O que nós, mulheres, temos de parecido, o shopping, o salão? Nem chegam perto. Não pode xingar, espernear, soltar os sapos da garganta - além do que, num e noutro, o máximo de exercício que se faz é com a língua na futrica da vida alheia; muito chato.

Não havia como negar, o brinquedo dos rapazes é muito divertido, como só, e o meu vazio que era de inveja pura. - Nós, as mulheres, nada tem que se compare..." risos.