terça-feira, 19 de junho de 2007

Decanos I > Teco

ESPORTISTA UM SER PRIVILEGIADO . . .
Felizes os que têm oportunidade de praticar Esporte. A prática esportiva é sempre acompanhada de alegria, mas é preciso experimentá-la para acreditar. O homem deve morrer moço o mais tarde possível. O ser humano leva vinte anos crescendo e cinqüenta ou mais envelhecendo. Saber envelhecer é obra da sabedoria, é uma das coisas mais difíceis da grande arte de viver. Levando vida sedentária, aos quarenta anos o coração já não agüenta. O movimento conduz à vida, a inatividade à morte. Através da atividade esportiva é possível permanecer com 40 anos durante mais 30 anos. Os benefícios da atividade esportiva não são armazenáveis; não adianta ter sido atleta para justificar a inatividade. Saúde em si não é tudo, porém, tudo é nada sem saúde. Na prática esportiva não há discriminação de cor, de raça ou de condição social. O Esporte é uma das poucas atividades que consegue mobilizar os homens de forma freqüente e permanente. Mas é da participação que o Esporte propicia uma das maiores relíquias entre os homens: "A amizade".
Essas citações fazem parte da cartilha que escrevi “O Esporte como Objetivo Maior”. Às vezes é preciso falar ou escrever, para expressar o que sentimos e que no dia-a-dia não nos damos conta. Eu me considero uma pessoa privilegiada, pois, nasci para ser esportista.
Iniciando no futebol, como todos os meninos daquela época, o racha ocorria na rua de casa, no meio do areão, por onde passavam os caminhões. Chamado para participar do time de futebol infantil que se pretendia formar na cidade, contrariado com os fundamentos de futebol que o técnico (dono de um boteco) insistia, principalmente, tentar chutar com a perna que não era a preferencial, em pouco tempo não sabia com qual delas chutava mais forte. Ao entrar na escola, o leque se ampliou e a prática esportiva não se restringiu mais ao futebol, mas também, ao futebol de salão e ao basquete.
Ao vir para São Paulo, trouxe uma bola de futebol, que foi fundamental para que os universitários do Conjunto Residencial da USP pudessem formar um time. Ali fiz parte do time de futebol e da seleção de futebol de salão, além de me tornar diretor de esporte do grêmio. Quase fui jogar no São Paulo F.C., mas não tinha jeito para ser bambi e tinha nos estudos o objetivo de vida. Ainda me lembro de um jogo que fizemos em Casa Branca: no ataque deles estava o Lance (Corinthians) e o Maritaca (Ferroviária). Haviam empatado com o Palmeiras uma semana antes. Pois bem, ganhamos de 5 a 2 e haja entrevista depois do jogo. No terceiro ano da faculdade, já dava aulas num cursinho em Osasco e após retornar por volta das 24:00 horas, os colegas já estavam me esperando para disputar o campeonato de futebol de salão (os times eram por andar dos prédios).
A prática esportiva estimulava as minhas idéias. De repente, resolvi criar uma competição que se chamou “Volta de Cidade Universitária”. Na primeira competiram 11 atletas (à noite), inclusive um africano que correu descalço. Pois bem, organizei até a 12ª edição e hoje a corrida já está na 44ª volta, tornando-se uma tradição na universidade.
Como atleta, sempre achava que a presença do público e das autoridades motivava e melhorava a performance de quem competia. Assim, convidava todas as autoridades da universidade e da sociedade paulistana para comparecerem nesse evento. Nunca apareceu um puto. Até que um dia e sempre tem um dia, um novo reitor que havia tomado posse há um mês na universidade, nos idos de 1968, resolveu comparecer na Volta da Cidade Universitária, à noite. O magnífico chamava-se Miguel Reale e foi escolhido para dar o tiro de partida. Após o término da corrida, durante a premiação, o Reitor pediu para fazer uso da palavra. Naquela oportunidade, reconheceu a falta de condições para a prática de esporte pelos estudantes e prometeu que ao término do seu mandato a comunidade universitária teria uma praça de esporte. Após o que, fui nomeado membro da comissão de lazer e recreação da USP. Dois meses depois dessa corrida, o reitor emprestou 5 milhões do governo do estado e 5 milhões da prefeitura de São Paulo e começou a construção de uma das maiores praças esportivas da América Latina: o Centro de Práticas Esportivas da Universidade de São Paulo. Ao término do mandato do Prof. Miguel Reale, a Cidade Universitária tinha uma praça esportiva, como prometera. Enfim, essa explicação consta do seu livreto de realizações, em que a praça esportiva se iniciou da corrida, em função de um ofício eu que sempre enviava para as autoridades.
Em 1965, sentindo a necessidade de apoio técnico para as nossas competições esportivas, fiz um ofício ao magnífico reitor, pedindo a integração da Escola de Educação Física (que funcionava como um instituto de ensino superior isolado, no Ginásio do Ibirapuera) na USP. A reivindicação foi encaminhada ao Conselho Universitário, que após 7 anos de negociação com os professores da Educação Física, concluiu pela integração da escola na universidade (os meus depoimentos sobre esse acontecimento constam da defesa de tese doutoramento de um professor da Educação Física).
Como estava envolvido com o Esporte, fui escolhido para conversar com o então príncipe Akirito e a princesa Mitiko (hoje imperador e imperatriz do Japão), sobre esporte, cujo acontecimento foi objeto de reportagem no Jornal O Estado de São Paulo.
Apesar da contribuição que dera ao Esporte na universidade, o Prefeito da Cidade Universitária me chamou para ser o Diretor do Centro Esportivo da USP (1975), no entanto, um coronel que controlava um listão negro na reitoria, impediu a minha contratação, alegando que eu era subversivo. Isto porque, o meu nome foi arrolado em dois inquéritos militares, como responsável por seqüestrar um investigador de polícia e por ter tocado fogo num carro da polícia (estamos falando da época da ditadura). A verdade, é que eu tinha um sósia no CRUSP e fui acusado por fotografia. Consegui provar que não seqüestrei o investigador, levando-o para refazer o depoimento. Como não podia provar o não envolvimento no fogo do carro da polícia, o meu nome ficou registrado no listão da reitoria e perdi a oportunidade de dar seqüência aos meus projetos de esporte.
As explicações acima são mais no sentido de mostrar o meu envolvimento com a universidade e a facilidade com que consegui o campo da USP para os momentos em que o futebol do Santa Cruz esteve interrompido.
Com o fechamento do CRUSP em 1968, fomos morar numa casa em Pinheiros, próximo ao local onde o metrô pinheiros desabou. Foi então quando começamos a jogar futebol aos sábados, no colégio Santa Cruz, a convite do Giorno, que trabalhava na CESP e era colega de um amigo que morava em nossa casa (Lourival), além do Major e do Jorge Azevedo. Passamos a jogar aos sábados, o Fernandes, o Parágua (o Falopa os conheceu), o Totó e eu. A partir daí o futebol tem toda uma história. Apareceu o Délcio (que havia morado comigo numa pensão na Vila Mariana, logo que cheguei a São Paulo), o Falopa, o Souzinha, o o Lineu, o Cadu, o Haruo (que também morou na Cidade Universitária) o Cláudio, o Chicão, o Luiz Manteiga e muitos outros.
Algumas vezes nos reunimos com o padre Corbeille (substituiu o Charboneau), passamos por ex-alunos, enfim, foi uma epopéia que durou quase trinta anos, com algumas interrupções no futebol, retomadas em função da amizade que mantivemos com o Prof. Boaventura da USP, que era professor do Vice- Diretor do Colégio Santa Cruz (prof. Luiz Antonio) no grupo de atividades físicas para executivos.
Nesse período, jogou conosco: o grupo dos novos baianos (Pepeu etc.), o Nuno Leal, o Chico Buarque, o Plínio Marcos, o Walter Ceneviva (que escreve na Folha), o Ivan Magalhães (era diretor comercial e hoje é o superintendente da Rede Bandeirantes de Televisão) , o Bottini (Bandeirantes), o Walter Silva (picape do picapau), o Rogério (irmão da Elis Regina), o Osmar Santos, o Ciro José Diretor de Esportes da Globo, o Diretor do programa do Ferreira Neto, o Carlitos (jogou no Jabaquara), o Ergas, o Bonfá, o Miziara (do SBT), os irmãos Haya e Lafaiete, o o Vanderley Sorry, o Marcão e outros que o Falopa deve recordar (sem contar os que permanecem , como o Dante, o Adelino, o Ulisses..).
Apesar dos nomes que por lá passaram, a célula do futebol permaneceu viva, o espírito continua o mesmo e a alegria de participar permanente. Houve momentos difíceis, que só quem passou pode avaliar. O Patrice é um dos poucos que pode sentir na pele o que vivi muito tempo. Algumas dificuldades foram criadas no Santa Cruz e entre elas, a necessidade de reservar o campo toda semana como ocorre agora no Centro Olímpico (que é mensal). Para fazer a reserva, tinha que ficar conversando por quase um hora com a tal de Maria José (responsável pelo procedimento). Ali aprendi a ter saco e paciência para suportar toda e qualquer provação. O Patrice passou por isso. O nosso futebol passou ainda pela Cidade Universitária, pelo campo do DAEE e vários campos de futebol society.
Enfim, continuamos com o nosso futebol. Se a felicidade pode ser sentida por apenas alguns segundos (uma gozada demora um pouco mais), o futebol propicia a expectativa dos preparativos, a alegria dos momentos do jogo e o videotape na memória de cada um, reprisando os bons momentos vivenciados.
Concluindo, praticar esporte é um privilégio, jogar futebol com um grupo de amigos é uma dádiva, perseverar nesse objetivo é um alimento que não tem preço, pois torna a vida mais agradável e prazerosa de se viver.
Com essa vivência, após uma carreira de professor universitário e trinta anos como diretor de um colégio particular, continuo na luta pela construção e pela valorização do Esporte, como assessor de Esporte na Assembléia Legislativa. Enfim, estou sempre desejando para os outros, o que foi em grande parte a razão de minha vida. Para Recordação, >>> Teco