terça-feira, 14 de agosto de 2012

Usain Bolt em quatro atos


Usain Bolt em quatro atos

"As pessoas dizem que sou uma lenda, mas não sou. Não enquanto não defender os meus títulos olímpicos. E eu quero ser uma lenda."

Pequim, 2008. 

Usain Bolt assombra o mundo ao correr os 100 metros em 9s69. Novo recorde mundial e Olímpico. O jamaicano cruza a linha de chegada batento no peito, olhando para os lados, mostrando ao planeta sua superioridade. Uma das cenas mais impressionantes da história olímpica.

Agora tente se lembrar quem estava no pódio ao lado dele. Asafa Powell? Não, ele ficou em quinto. Tyson Gay? Também não, ele nem sequer foi à final. Justin Gatlin? Imagine... o campeão de 2004 estava banido por doping.

Em 2008, a prata ficou com Richard Thompson; o bronze foi para Walter Dix.

Mas foi a prova de Bolt. Do indiscutível e incontestável Bolt.

Berlim, 2009. 
Usain Bolt larga mal, como de costume. Mas toma o comando da prova já nos 40 metros. Aos 50, olha para a esquerda e vê Asafa Powell e Tyson Gay. A briga dos dois é pela segunda colocação. O campeão olímpico corre para ser, também, campeão do Mundial.

A disputa era Bolt x Bolt. E o homem mais rápido do mundo corre os 20 metros finais olhando para o placar que fica logo após a linha de chegada.

Quando a tela trava em 9s58, novo recorde mundial, o jamaicano grita.

Mais uma vez, a prova era de Bolt. O indiscutível e incontestável.

Daegu, 2011. 
Usain Bolt chega à final com o terceiro melhor tempo das eliminatórias. 10s05, com o tradicional trote nos 30 últimos metros.

Na final, Yohan Blake, na raia 6, faz um leve movimento no bloco de partida.

Bolt, na raia 5, é enganado pelo ato reflexo. O homem mais rápido do mundo age rápido demais, queima a largada e acaba eliminado. Blake, companheiro de Bolt nos treinos e no revezamento jamaicano, vence a prova com 9s92.

Mas só se fala em Bolt. Seria ele tão indiscutível e incontestável assim?

Londres, 2012. 
Usain Bolt chega à segunda Olimpíada como um dos principais atletas dos Jogos. Com a despedida de Michael Phelps, no sábado, torna-se a grande estrela da competição a partir de domingo.

O Estádio Olímpico está lotado. São 80 mil pessoas e apenas um assunto. O homem mais rápido do mundo. Estaria Bolt com 100% da capacidade física? Poderia Yohan Blake surpreender o planeta? Será que ele vai queimar a largada de novo?

O telão e os autofalantes pedem silêncio. Bolt, também. O campeão está solto, sorri para as câmeras; parece pronto para se divertir.

A largada é ruim - que novidade! - e o time de opositores nunca foi tão forte. Asafa Powell, Yohan Blake, Tyson Gay, Justin Gatlin, Ryan Bailey, Richard Thompson e Churandy Martina.

Mas os outros sete atletas que estão na pista só fazem parte da visão periférica de quem está nas arquibancas. Os olhos procuram por Bolt, e o recordista mundial precisa se esforçar. Sem batida no peito, sem olhares para os lados, sem a facilidade que marcou as conquistas anteriores, Usain Bolt é bicampeão olímpico dos 100 metros.

Sete atletas correm abaixo de 10s, fato inédito. Blake, o segundo, faz a nona melhor marca da história, igualando o melhor tempo da vida. Justin Gatlin corre em 9s79, também o melhor tempo da vida. Tyson Gay passa em 9s80, perde a medalha e chora. Asafa Powell sente uma lesão na virilha e se arrasta até a linha de chegada; depois, fica agachado na pista, olhando a festa dos vencedores.

Mas só se fala em Bolt.



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