sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Diário CicloPoiesis 27/

Na véspera do aniversario de 30 anos de Thobias, escrevemos essas palavras de frente para o pacífico, tomando uma cerveja. O dia começou “temprano”, levantamos as 4 da manhã e deixamos Ica, a cidade da buzina, para trás. O vento estava a favor, o terreno era plano e nossa energia estava pulsando. Pedalamos 2 horas mantendo uma média de 30 km/h, que para uma cicloviagem é uma alta velocidade, pelo menos para nosso ritmo.
No caminho, observamos uns “bugues” estacionados nas dunas. AdrenaArena é uma empresa especializada em levar turistas para passeios de bugues pelas dunas da região de Paracas. Mario, dono da empresa nos levou pára um passeio, com muita adrenalina, um visual inesquecível e uma aula sobre a geografia do local. Apesar do impacto ambiental que os carros causam nas dunas, tudo é feito muita consciência e controle, causando o menos de danos possíveis e com a preocupação de cuidar da região. Vale a pena ver o vídeo, ou melhor, viver essas experiência em Paracas, no Peru.
Seguimos para a cidade litorânea de Paracas, no caminho o Thobias já sentia as boas vibrações, empolgado deixou a mala aberta, e por isso teve que voltar de 3 a 5 km para buscar as coisas que caiam na estrada. Em Paracas vimos e sentimos a água gelada do Pacífico pela primeira vez nessa viagem. Fomos a procura de Frank, por recomendação de Mario e nos hospedamos em seu albergue. Comemos um “pescado”, brindamos com uma cerveja e ainda são 2 horas da tarde. O clima segue bom. Em fim descansando, trabalhando e comemorando de verdade.

Acordamos com as galinhas, ou melhor, com os berros dos galos e partimos em direção a Ica. Logo no inicio encontramos o desvio que o responsável pelo museu Maria Reiche havia nos falado, sem hesitação fomos pelo caminho mais curto. Essa estrada foi interrompida por causa de um terremoto, que abalou a estrutura de um túnel que corta a estrada, porém conforme verificamos, a estrutura do túnel está muito sólida!
Muita subida e “puro desierto”! Entramos em contato com a secura e a alta temperatura que nos castigou, por isso decidimos baixar a cabeça e pedalar em frente. Chegamos em Ica quebrados, comemos e nos encostamos na primeira pousada que achamos. Um dia de pouca produção, de pedal muito pesado e estressante. Em Ica nos organizamos para sair bem cedo em direção a Paracas, deixando para trás o barulho das buzinas, que até agora nos deixa com dúvidas: Para que buzinar tanto?

Surpresa, a chave perdida estava no bolso de Thobias. Depois dessa boa notícia e de enrolarmos bastante para acordar e sair da cama, começamos a nos organizar para partir. Thobias passou a noite indo ao banheiro, estava com diarréia, Rodrigo ao acordar também sofreu do mesmo mal. Partimos mesmo assim, a viagem foi tranqüila e nosso estado de saúde não é nada preocupante, já estamos bem melhor.
Os primeiros km´s foram muito legais, uma nova paisagem, um novo clima. Viver o deserto é muito interessante, ao mesmo tempo em que ele atrai, também repele. Fizemos muitas fotos e vídeos, pedalamos atentos procurando locais mais altos para tentar ver algumas linhas e figuras de Nasca. Vimos e nos encantamos.
Mais adiante, num pequeno povoado visitamos a casa de Maria Reiche, uma arqueóloga alemã que dedicou sua vida para descobrir os mistérios das linhas de Nasca. É graças ao trabalho dela que hoje o mundo ocidental conhece os mistérios em torno desses desenhos e linhas tão complexas, que segundo os guias e a própria Maria Reiche, estão relacionadas com a astronomia, épocas de plantio e colheita, e quem sabe muitas outras coisas.
No momento em que escrevemos esse texto, Thobias questiona a repetição dessas teorias, dizendo que talvez isso não faça nenhum sentido. Mais uma explicação de um mistério, reduzido a um calendário astronômico. Realmente não temos como saber! 
Maria Reiche escreve que seria muita pobreza achar que essas linhas e figuras são apenas a manifestação de crendices e rituais religiosos primitivos, afirmando que, em sua visão, todo esse trabalho é o produto de um esforço brilhante para compreender o mundo e o universo, fazendo comparação com os métodos das ciências naturais modernas. 
Enfim, após essa manhã de aprendizado, almoçamos mais uma vez um pedaço de frango com batatas fritas a beira da estrada. Sofremos com o calor e aridez do deserto, mas chegamos em Palpa, na “Posada Del Rio”, um Oasis no deserto. Agora a bateria do computador está acabando e vamos dormir em nosso primeiro acampamento dessa viagem, que é melhor do que muitos lugares que já nos hospedamos até aqui!!! Amanhã cedo vamos para Ica, começaras 5 da manhã para evitar o calor do deserto. 

O dia começou pesado. “Da-lhe” roupa suja pra lavar!!! 
Depois do almoço um passeio pelos Aqueodutos. Em meio ao deserto, vida, plantas espinhentas, cactos, melancias, pássaros e até Mata Blanco (estilo de borrachudo branco, que vem nos acompanhando pela viagem).
Dessa vez acompanhamos a periferia de Nasca, desértica, com um olhar mais crítico, duvidoso, confuso... Puro sentimento racionalizado... Difícil compreender. A reflexão girou em torno da pobreza em contraste com a exploração do turismo, os problemas da invasão cultural ocidental, que traz comparações e desejos de consumo que dificilmente se realizarão, entre todos os pobres que vivem na periferia de qualquer centro urbano, seja ele turístico ou não. 
Cruzamos silenciosos e apreensivos as ruas da periferia de Nasca até “La Plaza de Armas”. Uma apresentação cultural estava sendo organizada pela prefeitura, quando ouvimos um senhor nos chamando: “Brasileiros!!!!! Querem participar de nosso evento junto aos representantes do turismo e esporte da cidade?” Ficamos um pouco em dúvida, talvez um envergonhados ou deslocados, mas aceitamos o convite com muito prazer. Mais uma oportunidade de divulgar nosso projeto e principalmente o uso da bicicleta como meio de transporte. Parecia que todos sabiam o que fazíamos ali... os que não sabiam, ficaram sabendo. O melhor foram as conversas e amizades, além do aprendizado sobre a história da cultura Nasca, assim como de seus antecessores, civilizações muito desenvolvidas que já habitavam a região desde 500 anos antes de cristo.
Finalizamos o dia com um “putz, perdemos a chave do quarto...” Acho que caiu do Bolso do Thobias. Kkkkkk, mais uma!!!!

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